A menina tinha gosto especial pelo verde. Achava divertido constatar que a maioria de suas roupas era verde. Sempre que precisava escolher alguma coisa, tendia ao verde e seus muitos tons. Um dia, andando na rua, observou, mais uma vez, uma peça de roupa verde em uma vitrine de loja. Sorriu com a não surpresa do olhar; porém, neste mesmo momento, deparou-se com uma parede verde, reparou também que vinha a seu encontro um rapaz com blusa verde e, descobriu, então, que o que manchava tudo a seu redor de verde era o seu olhar. Seus olhos – nascidos azul celeste – agora verdes, davam aquele tom a suas escolhas.
"o verde fala a língua de todas as cores." (Mia Couto)
domingo, 20 de janeiro de 2008
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
A Partilha
Do livro Conto a Gotas, ainda não publicado
O casal vivia junto há mais de quinze anos. Eram divertidos e pareciam felizes. As diferenças não causavam problemas à relação, já deviam ter aprendido a lidar com elas depois de tanto tempo juntos. Mas houve um dia em que se desentenderam seriamente. A vida em comum não era mais possível. O melhor a fazer era a separação, por respeito aos dois e ao que viveram. Ninguém acreditava muito naquilo, mas era verdade. Começaram a discutir as coisas práticas, quem ficaria no apartamento? Quem cuidaria do cachorro? Tinham muitas decisões a tomar. Quem ficaria com o aparelho de chá, presente da avó dela que tinha uma inconfessa preferência por ele? E aquele cd com as músicas que faziam parte da história romântica do casal? O aparelho de telefone do Garfield comprado na primeira viagem a Miami? A maior briga: com quem ficaria o único quadro que pintaram juntos depois do primeiro show que assistiram? Tinham combinado que pintariam um quadro toda vez que voltassem de um show, mas, apesar de terem ido a inúmeros espetáculos, só pintaram aquele quadro. Foram dias de muita tensão. Algumas decisões foram através de “par ou ímpar”, outras, por chantagem emocional. Ufa! Tinham conseguido terminar, jogaram-se no sofá exaustos. Quando iam brindar o fim da partilha, avistaram o computador... o único computador... Olharam-se por um longo tempo. Abraçaram-se, desfizeram as malas e combinaram nunca comprar outro computador.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
Milágrimas
de Itamar Assumpção e Alice Ruiz
Em caso de dor, ponha gelo
Mude o corte do cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo
Esqueça seu cotovelo
Se amargo for já ter sido
Troque já este vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério, deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada milágrimas sai um milagre
Em caso de tristeza, vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra apenas, viva apenas
Sendo só fissura, ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto, invente seu endereço
A cada milágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre
A cada milágrimas sai um milagre
Em caso de dor, ponha gelo
Mude o corte do cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo
Esqueça seu cotovelo
Se amargo for já ter sido
Troque já este vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério, deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada milágrimas sai um milagre
Em caso de tristeza, vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra apenas, viva apenas
Sendo só fissura, ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto, invente seu endereço
A cada milágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre
A cada milágrimas sai um milagre
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