quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Pra quê?

Como somos curiosos em relação a quem fez parte do nosso passado...
Talvez o melhor lugar para esses afetos ainda seja a lembrança.

O orkut e outros meios virtuais propiciam esse "retorno ao passado". Não é muito difícil encontrar um antigo professor, um ex vizinho, um colega da alfabetização ou o primeiro namorado.

O que exatamente nos leva a essa procura? Será saudade, curiosidade em relação ao que a pessoa faz ou em relação à lembrança dela de nós? Os motivos variam. Quase invariável é a questão que se coloca depois - o que mesmo me fez querer saber sobre essa pessoa? Que diferença isso faz na minha vida hoje? Pra quê?

Invariavelmente esses reencontros não levam à retomada de uma grande amizade ou à mudança de algo que tenha real importância. Há exceções, é claro. Quem sabe você descobre que tem mais afinidade, hoje, com aquele cara da escola com quem mal falava oi? Exceções.

Então, afinal, por que querer trazer o passado de volta? Será nossa mania contemporânea de não poder perder nada, de querer tanto e sempre mais de quase tudo?

Quantos daqueles seus 798 amigos do orkut são realmente alguém na sua vida?

domingo, 19 de agosto de 2007

Reinventar

Esta é a palavra do hoje.
Ela reúne em si o seguinte significado: o que há não pode mais ser, é preciso ser de outro modo.
Ela é auto-aplicável e aplica-se a tudo; absolutamente tudo.

Eu estou me reinventando, não sei se continuo a pintar ou se deixo os cabelos brancos.

domingo, 5 de agosto de 2007

Insônia

Do livro Conto a Gotas, ainda não publicado.


Meia-noite. Clara deitou depois de um dia comum. Hábito seu demorar-se um pouco em pensamentos antes de adormecer. 3 da manhã. Clara acordou naturalmente, levantou-se, bebeu um pouco d'água, olhou o relógio e deitou novamente. Pensamentos começaram a invadí-la. Pensou sobre sua atividade profissional, sobre seu namoro, sobre como estava demorando a conciliar o sono novamente e, por fim, percebeu-se atenta aos movimentos da rua, tentando adivinhar há quanto tempo perdera o sono. Clara morava num apartamento térreo de frente pra rua. Estava completamente adaptada à condição de ter como vizinhos os pedestres e a padaria da esquina que abria suas portas antes das 5 horas da manhã, oferecendo seu pão quentinho quase como prêmio a quem acordava tão cedo para trabalhar. Ouviu as pesadas portas da padaria serem abertas e ficou aguardando o aroma do pão fresquinho invadir seu apartamento. Ônibus e carros passavam mais freqüentemente, o sol clareava o dia, saltos de sapatos encontravam, ruidosamente, o chão com passadas apressadas. 7 da manhã. Clara pensara, um minuto antes de pegar no sono, que esse seu dia iria mesmo começar mais cedo. 10 da manhã. Agora sim o início do dia. Clara levantou deduzindo a causa de sua insônia, a leitura após o jantar: indigestão de Kafka.