terça-feira, 3 de março de 2009

A Arteterapia e sua função transformadora

A Arteterapia quer acordar essências. Quer despertar potenciais existentes mas não disponíveis – talvez por falta de uso, de hábito ou de coragem. Quer apontar para a singularidade do ser individual.

Para tanto, tem como fio condutor a criatividade, que funciona também como um desbloqueador, gerando um ciclo onde a criatividade desbloqueia potenciais que desvendam possibilidades que encorajam a criar. E assim, outros pontos são tocados, novas alternativas se apresentam, a confiança aumenta e a criatividade se expande, num ciclo sem fronteiras.

Para uma visão holística-integral do ser humano, é preciso ampliar o olhar além das dicotomias, como corpo/mente, emoção/razão. Há muito o homem foi partido e, apesar de estar tentando reconquistar a inteireza, o caminho é árduo. Hábitos, costumes e culturas não se transformam de um dia para o outro.

De diversas formas nas diversas culturas, o homem foi sendo fragmentado mais e mais. A culminância dessa maneira de perceber o humano se deu com o aumento cada vez maior da especialização médica. O avanço tecnológico e o aumento de conhecimento trouxeram inúmeras inovações importantes para o aumento da média de vida e de sua qualidade, porém, conseqüentemente, o homem foi sendo visto com uma lente cada vez mais profunda e menos ampla.

Desse ponto de vista, o caminho para uma percepção mais integral vem sendo resgatado pela revalorização da homeopatia, terapias complementares, corporais e energéticas e psicologia profunda, além do aumento do interesse pela cultura e filosofia orientais que têm como fundamento o ser integral.

Como a Arteterapia pretende trabalhar com a integralidade do ser, apresenta abordagem onde o indivíduo entra em contato com os elementos da natureza: terra, fogo, água e ar. Dessa forma, pode ter a noção concreta de que traz em si várias nuances, mas que a coerência com a unidade e a inteireza são possíveis. Também pode compreender melhor as características e diferenças individuais, melhorando a qualidade de seus relacionamentos.

No início do século XX, o suíço Carl Gustav Jung tornou-se médico psiquiatra e passou a desenvolver sua própria teoria psicológica. A colaboração com Sigmund Freud e uma profunda auto-análise, deram início a um extenso estudo científico acerca da psique humana.

Em sua teoria, descreve quatro funções psicológicas: sensação, intuição, sentimento e pensamento, que, junto aos conceitos de extroversão e introversão, formam seus oito tipos psicológicos; onde cada pessoa possui uma função principal, uma inferior e duas auxiliares.

Analogamente, podemos relacionar cada função da teoria analítica a um elemento da natureza. A sensação está ligada ao corpo e ao sentido proprioceptivo, sua relação é com a terra, elemento concreto, que limita. A intuição é relacionada ao fogo e ao que é primordial e espiritual. Sentimento e água correlacionam-se na fluidez e expansão, estão ligados à emoção. O pensamento é tão impalpável e pode tomar tanto espaço quanto o ar.

A idéia de inteireza está ligada, entre outros fatores, ao equilíbrio das quatro funções, respeitando-se, no entanto, a predominância de uma ou outra como característica pessoal.

Na Arteterapia, a busca do equilíbrio se dá com o fazer. De forma que cada um dos quatro “despertadores” (sensorial, intuitivo, emocional e mental) toque o indivíduo, acordando algo que ainda estava adormecido. Então, a cada produção há uma associação interna, o trabalho e a expressão concreta levam a uma tomada de consciência e conseqüente possibilidade de mudança.

Arteterapia é transformação. Sua função é possibilitar e promover mudanças com vista à integralidade do indivíduo e conseqüente melhora em sua qualidade de vida. É colaborar para a construção de um mundo onde a possibilidade de escolha, a liberdade e o respeito à singularidade sejam fatores chaves para a vida em comunidade. É acreditar que o ser humano pode viver de forma integral, respeitando seus próprios limites e características e exaltando e orgulhando-se de seus talentos. É sonhar e trabalhar por uma sociedade mais cooperativa, saudável e feliz; pela humanidade no sentido estrito da palavra.

Escrevi esse texto há alguns anos, em 2003 ou 2004.
Senti saudade de mim, então resolvi publicá-lo aqui.
Apesar de um pequeno desvio no caminho, continuo a acreditar que o ser humano pode viver de forma integral, respeitando seus próprios limites e características e exaltando e orgulhando-se de seus talentos. E que é possível sonhar e trabalhar por uma sociedade mais cooperativa, saudável e feliz; pela humanidade no sentido estrito da palavra.

Um comentário:

Juliana Veiga disse...

Linda!
Amo vc e arteterapia, os livros, nossas canecas penduradas, sua parede de flores, sua coleção de lápis (já disse isso por aí) e tudinho mais!
E os desvios são necessários, mas não impedem nem de longe todo o resto (que é o mais importante)..

+ beijos, inté