sexta-feira, 9 de abril de 2010

O que é o medo?

Segundo o Aurélio: Sentimento de viva inquietação ante a noção de perigo real ou imaginário, de ameaça; pavor, temor.

O que foi a onda de pânico que tomou conta de Niterói ontem, julgando que havia um mega arrastão que percorria do Fonseca a Icaraí?

Eu estava na rua e observei que algumas lojas estavam com as portas meio fechadas, pensei que poderia ser em sinal de respeito aos mortos, já que a cidade está de luto oficial. Continuei caminhando em direção ao meu destino, quando fui surpreendida por várias pessoas correndo e dizendo que havia um arrastão. Eu e alguns outros entramos numa loja que trancou a porta de vidro. Lá de dentro eu via algumas pessoas correndo, outras andando normalmente. Na loja, algumas pessoas se descontrolavam ao telefone contando para outras sobre o arrastão que estava ocorrendo em toda a cidade, com saques em lojas e mercados e quebra-quebra de carros. É assim que o pânico se espalha: celulares nas mãos + medos: da violência, do desconhecido, da ameaça, do descontrole, da impotência.

Mas, de verdade, somos um povo solidário, não só na ajuda a quem precisa como também com quem está na mesma situação que nós. Nos unimos nesses momentos, somos uma família, amigos de infância e nos defendemos. Na loja em que eu estava tinha uma menininha de seus 4 anos, assustada com tantos adultos tentando esconder que estavam com medo e que coisas muito ruins poderiam ocorrer. Todos nós queríamos protegê-la. As vendedoras ofereciam água. Quem tinha o celular funcionando mau (porque houve uma pane momentânea no serviço), tinha vários outros aparelhos à sua disposição. Enfim, o instinto de sobrevivência ou de preservação da espécie e o amor ou a solidariedade são naturais dos humanos.

Mas também somos cruéis. Quando nos colocamos no lugar de vítimas e nos eximimos do sofrimento alheio. Quando perguntamos, como ouvi no meu lugar de refugiada, "o que eu tenho com o que ocorreu, se perderam tudo eu não tenho nada com isso", diziam em relação ao arrastão anunciado e aos supostos autores - pobres que já tinham pouco e que perderam tudo com as chuvas fortes e os deslizamentos.

Medo da miséria.
Que, ainda segundo o Aurélio, é o estado deplorável; indigência, penúria; avareza; bagatela, ninharia; ação vil.

O imaginário coletivo tem o poder de produzir esse cenário cruel e ilusório.
Bom se conseguíssemos transformar esse coletivo através da soma de nossas realidades individuais.

8 comentários:

Rogério Sacchi de Frontin disse...

Foi o melhor olhar sobre o caso. Que texto bom de ler! É visual.

Unknown disse...

bacana o texto, e dá uma realidade, verdadeira. Parabéns.

Juliana Veiga disse...

pois é.. o pânico pode estar ligado só ao imaginário, mas tem um poder incrível.. entendo.

bjo

Érima de Andrade disse...

VocÊ continua arrasando na escrita! Lindo de ler! Parabéns!
Faz um favor pra sua amiga velhinha e de óculos? TRoca essa letra... ruim demais ler assim com pouco contraste... Um beijo garnde!

Ekedji Lu Pereira disse...

Perfeito! Beijosss.

Ana Cláudia Farias disse...

Olá, Caroline! Há algum tempo atrás vc visitou um dos meus blogs e me deu umas dicas sobre Terapia Floral. Hoje, retomei meus estudos e abri um novo blog. Gostaria que o visitasse, ficaria mto feliz e desde já, agradeo suas dicas que realmente foram precisas, já que eu estava iniciando meus estudos e minhas informações estavam incorretas. Tenha uma ótima semana!

Fa disse...

Coisa linda o texto, Carol. Profundo, vivido. Você é ótima!

Lisandra disse...

Pois é, eu me lembro bem desse dia. Eu estava assistindo tudo pela varanda do apartamento que morava... as pessoas corriam, e eu corria com os meus olhos, com o meu coração, e me perguntava... o que acontece? Onde tudo isso irá parar...

E esse medo do outro, do espelho do outro, de um dia podermos estar no lugar deste outro, que nos invade, que invadimos.

Aquele deslizamento... os soterrados... as mortes das mortes... uma avalanche de emoções... acho que jamais esquecerei.

Beijos e um excelente texto!