terça-feira, 26 de março de 2013

"Eu não desenvolvo; sou."

Pablo Picasso


Era um grupo pequeno criando um espaço. 

O rapaz percebeu o alcance do amor. Às vezes o amor se disfarça de outras coisas, talvez seja preciso olhares que já tenham passado perto dali para apontar, sutilmente, uma outra possibilidade.

Diferenças e semelhanças.

Ele teve uma professora que, sabendo ou não, mostrou-lhe caminhos que talvez não encontrasse de outras formas. Talvez ela soubesse disso, mas, afinal, todos nós tivemos um professor-mestre.

Exercício de abertura.

Ele tinha livros, revistas e interesse por determinado assunto, pensava em fazer outra graduação quando terminasse a que estava cursando, aquela parecia fazer mais sentido do que esta. Talvez aquele futuro estivesse relacionado a sua sensibilidade. Seria como um guardião, e ao mesmo tempo, expressão.

Fluxo, movimento.

Os cupins devoraram seus livros e revistas. Sim, os cupins. Sem que ele percebesse, aquele interesse foi consumido. Por outros. Funcionou como um sinal. E, para que não restasse dúvidas, queimou o que restou. Agora aquilo parecia bobagem.

...

O rapaz tornou-se professor, enfrenta desafios, muitos. Certo é que sua sensibilidade o levará a ser lembrado por algum aluno como professor-mestre.

O mundo dá voltas.


(p.s.: era pra ser um conto sobre o rapaz. mas surgiu uma interlocução)

sábado, 16 de março de 2013

E se eu morresse agora?

Não que eu queira, gostaria de me demorar bastante por aqui.

Mas essa frase-reflexão me tomou ainda agora, quando fiquei sabendo sobre o estado de saúde do irmão de uma amiga. De repente, ele não está bem.

E aí, aqueles mil pensamentos em frações de segundo, e pensei: e se fosse eu?

Me deu uma certa calma, é bom reiterar que quero continuar por aqui!

Pensei que as minhas relações são pacíficas e amorosas, que talvez ninguém ou ninguém importante pra mim guarde sentimentos negativos, tipo raiva, mágoa, rancor. Sentimentos que pudessem criar remorso na pessoa, transtorná-la ou gerar energia negativa na minha direção.

Fiquei feliz pela minha vida como ela é, como ela vem se desenvolvendo, como me relaciono com ela, quer dizer, comigo e com os outros. Pensei, ainda, que talvez mereça uma passagem leve, mas talvez não seja questão de merecimento; então pensei que gostaria de ter a sorte de uma passagem leve. Tomara que demore e que seja leve.

Beijo amiga.

quinta-feira, 14 de março de 2013

O corpo pensa

Em O Corpo em Crise - Novas pistas e o curto-circuito das representações, de Christine Greiner:

"Tradicionalmente, sempre se compreendeu o sistema imunológico como aquele capaz de proteger o corpo dos ataques externos. As metáforas militares de ataque e defesa sempre pareceram convincentes, apostando em uma separação clara entre o dentro e o fora do corpo, o si-mesmo e o outro. No entanto, como explica Varela, as habilidades cognitivas do sistema imunológico foram se tornando cada vez mais claras, não apenas após o surgimento da aids, mas também a partir de doenças como o lupus na qual o organismo deixa de reconhecer o que é do próprio corpo e passa a identificar o mesmo como o outro, combatendo-o. Muitos pesquisadores reconhecem que o sistema imunológico é capaz de aprender e lembrar, criando uma rede autônoma e inteligente. Para Varela, somente ao reconhecermos a autonomia desse processo, nas redes biológicas neurais e imunológicas, é que finalmente descobriremos como pensamos com nosso corpo inteiro."

Da mesma autora, O Corpo - Pistas para estudos indisciplinares:

"Em um artigo importante de Francisco Varela e Mark R. Anspach, 'The Body Thinks: The Immune System and the Process of Somatic Individuation', os autores explicam que durante anos a principal metáfora para ilustrar o sistema imunológico humano foi a metáfora militar. Assim como para falar de ciências cognitivas todos pensavam apenas na metáfora do computador e para descrever o corpo renascentista usava-se a metáfora do corpo-máquina, corpo-autômato, no que diz respeito à imunologia, a chave sempre foi a metáfora do exército, as forças de defesa do organismo. No entanto, pouco se discutia acerca, por exemplo, da diferenciação dos linfócitos entre si, tanto através de marcadores moleculares particulares quanto de anticorpos visíveis em suas membranas de superfície. Os anticorpos e outras moléculas produzidas por linfócitos são, segundo os autores, por longe o grupo molecular mais diversificado do corpo, qualificados para garantir a constante mudança e a diversidade de outras moléculas do corpo. Portanto, mesmo que o sistema imunológico tenha a função defensiva, não se pode desprezar as capacidades cognitivas que exibe. Isso porque ele partilha propriedades com o cérebro do tipo que tornam o comportamento cognitivo possível.
Diferentemente do sistema nervoso, o sistema imunológico não tem órgãos sensórios dispostos espacialmente para receber informações de fora do corpo. Anticorpos circulam livremente dentro do organismo e a chance de encontrarem moléculas de tecido orgânico (referentes ao que se entende por self) é tão grande quanto a de se depararem com antígenos (do não self). Por isso têm uma função de reconhecimento. Ou seja, ao reconhecer o antígeno, o anticorpo o neutraliza quimicamente. Mas Varela e Anspach vão ainda mais longe explicando que a constante troca da rede de componentes através dos novos linfócitos envolve um processo ativo que inclui aprendizagem e memória. Tais investigações têm sido desenvolvidas há anos a partir de disfunções imunológicas (...) Mais recentemente, aids e lupus têm complexificado ainda mais a questão. Evidentemente, não cabe neste livro detalhar estas investigações, mas vale a pena observar a mudança de metáforas, do exército e da militarização, para a da rede inteligente (com habilidade cognitiva). Isto leva a questionar, mais uma vez, os mecanismos de input e output na relação entre o dentro e o fora do corpo, ajudando também a entender como pensamos e aprendemos com o corpo todo e não apenas com o cérebro e o sistema nervoso.
O estudo das metáforas, entendidas como metáforas do pensamento, nos ajuda também a compreender que as mudanças de nomeação do corpo, no decorrer da sua história, apontam para questões que seguem além das classificações gerais, destacando também o modo singular como o entendimento do corpo e das suas relações com o ambiente, os sujeitos, a consciência, a linguagem e o conhecimento, veem sendo rediscutidos e redimensionados Assim tem ocorrido também com o próprio sentido da vida, a noção de evolução e de estar no mundo. O reconhecimento de que o sistema sensóriomotor e o sistema imunológico têm natureza cognitiva e não apenas o sistema nervoso central, reitera não apenas a evidência de que o corpo pensa, mas a de que o pensamento se organiza como ações possivelmente descentralizadas, nutridas pela 'indeterminação da vida em todos os seus sentidos' como insistia Artaud."

quarta-feira, 13 de março de 2013

...

às vezes dá um cansaço...